Como tudo começou....
Passando das linhas para o desenho
Ainda me lembro de quando era criança e vivia com alguma coisa nas mãos para criar: o crochê começava com as famosas "correntinhas", que cresciam em metros para logo em seguida serem desmanchadas. O tricô fazia as agulhas dançarem em minhas mãos criando sapatinhos de lã que depois eram doados.
Os tecidos estavam sempre à vista com as costuras de minha avô e minha tia. Eu ficava encantada em como podíamos transformar um "pedaço de pano" em vestes tão lindas. Vestidos de noiva eram bordados com total esmero e dedicação.
Meus olhos foram treinados para ver a beleza surgir de mãos habilidosas! Já na adolescência, comecei a costurar as minhas roupas com os lençõis de minha mãe.
Através da convivência com um amigo, comecei a frequentar a Pinacoteca do Estado de São Paulo aos 16, 17 anos, quando o universo do desenho se revelou para mim de forma mais consistente. Participava das aulas livres de nu artístico e o corpo humano aparecia nos traços e na imaginação.
Aquele era um universo "mágico", à minha frente um corpo e seus mistérios. Fui aprendendo a olhar de forma diferente para ele (o corpo) e a perceber a beleza da Criação. Confesso que na primeira vez, antes de lá chegar, tive muitas fantasias e medo, (estávamos na década de 70) mas, aquele se tornou um lugar sagrado para mim, o respeito era a marca fundamental do lugar. Minhas mãos deslizavam pelo papel rapidamente formando linhas e traços que hoje orientam os trabalhos. Liberdade para criar, como isto é fundamental!
Primeiros Traços...
As cores foram chegando nos tecidos e roupas tingidas, pintadas e bordadas, dando um colorido especial aos corpos que as vestiam..... Os fios foram se entrelaçando nos teares que criavam tecidos únicos. Arte em suas mais variadas nuances.
Sempre me encantei com a possibilidade de criar algo diferente a partir de fios, agulhas, tecidos, tintas, etc. Isto me fez pensar que se eu podia transformar um objeto, também podia transformar minha vida. Dar importância as coisas mais simples e corriqueiras do nosso cotidiano, abrir os olhos para enxergar além. A beleza se revela para os olhos que passam apressados. O trabalho manual exige concentração, presença, um mergulhar no "agora" e deixar que algo surja, que a surpresa aconteça.
Uma ideia pode ser perfeita enquanto continuar uma ideia, mas, a partir do momento que colocamos a "mão na massa" e materializamos algo, entramos no complexo exercício da aceitação e da humildade em aceitar nossa limitação. O tempo de realização, os materiais e recursos necessários para a criação: a obra enquanto produto pode não ser o ideal, o mesmo que nossa imaginação apresenta, mas, entra na condição do que é possível.
Sendo assim, aqui fica aberta esta galeria, com obras que retratam uma pessoa (eu) em evolução enquanto na jornada de vida. Quando olho para uma obra antiga percebo o primitivo nela, mas, com certeza, daqui alguns anos, o que faço hoje pode também já estar ultrapassado.
Aproveite e se inspire também!